“Podiam, mas não queriam”. O dito cunhado por Kindleberger para caracterizar o papel dos Estados Unidos no processo que desembocou na crise de 29 e na depressão dos anos 30 do século passado é bem conhecido. Exaurida pelo esforço de guerra, a Grã-Bretanha ainda tentara restaurar o padrão monetário prévio ao conflito, cujos sustentáculos eram a centralidade da City de Londres e a paridade da libra. Mas sua debilidade condenava ao fracasso tal projeto político. Para garantir a estabilidade financeira naquela quadra histórica tão conturbada, seria necessário que potência já então predominante, econômica e politicamente, se dispusesse a liderar seus pares na busca de uma solução coletiva para os problemas compartilhados. Mas essa disposição não existia.
Desde meados da década de 1970, quando foi enunciada, a tese da “estabilidade hegemônica”, a que o parágrafo acima alude de forma telegráfica, sofreu um sem número de críticas. Mas ninguém disputa este outro fato histórico, que a apoiava: ao final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos operaram denodadamente como grandes arquitetos da ordem econômica que assegurou o longo período de desenvolvimento capitalista vulgarmente conhecido pela alcunha de “os gloriosos trinta”. Têm origem nos Estados Unidos — em negociação direta com a Grã-Bretanha, é certo — as instituições emblemáticas desse ordenamento — o FMI, o Banco Mundial e o GATT — o plano de ajuda econômica que permitiu a correção dos desequilíbrios externos da Europa em reconstrução, a estabilização das relações sóciopolíticas no velho Continente, e o avanço nele do processo de integração (a Comunidade do Carvão e do Aço, primeiro, o Mercado Comum, e a Comunidade Econômica Européia).
A partir da década de 1970, quando Kindleberger apresentou a sua tese famosa, o papel dos Estados Unidos não tem sido tão benigno. Foi por decisão unilateral que o governo americano quebrou o regime monetário até então vigente, ao decretar a inconversibilidade do dólar — para responder ofensivamente à pressão das potências aliadas em prol desvalorização de sua moeda e preservar a autonomia de sua política. E foi sob o impacto da crise precipitada pela brutal elevação da taxa básica de juros nos Estados Unidos, em 1979, que foi aberta a rodada Uruguai do GATT, cujos efeitos profundos sobre o regime multilateral de comércio são amplamente conhecidos. Ambas — a Rodada de negociações do GATT e seu resultados — foram fortemente influenciadas ainda pela legislação comercial impositiva adotada pelos Estados Unidos em 1984, e pela ameaça constante, que a superpotência passou a fazer na época, de recorrer a acordos preferenciais de comércio para dobrar a resistência de interlocutores a seus pontos de vista.
Os desenvolvimentos mais recentes confirmam a tendência já prenunciada, então, de emprego de recursos de poder pelos Estados Unidos para resolver problemas internos e fazer avançar, no plano da econômica internacional, os objetivos de sua política. Ilustrações eloquentes desse fato são o manejo da política monetária nos últimos anos, com a pressão altista que vem exercendo sobre as demais moedas em todo o mundo, e a opção por grandes acordos preferenciais de comércio, como forma de contornar os impasses na Rodada Doha da OMC.
Tratando-os de enquadrá-los em perspectiva histórica de longo prazo, os trabalhos abrangidos nesta subárea estão voltados para o estudo de diferentes aspectos da política econômica internacional presente dos Estados Unidos.